sábado, 21 de junho de 2008

Supermercados regionais mantêm aquecido o clima de aquisições

20/06/2008 - Valor Econômico

O interesse por aquisições no setor de supermercados continua forte neste ano a despeito de alguns indicadores econômicos, que apontam para uma uma desaceleração do consumo em resposta à alta da inflação e das taxas de juro. Após o movimento de aquisição de redes de atacarejo (modelo híbrido de atacado com varejo) pelo Carrefour e pelo Grupo Pão de Açúcar em 2007, as "noivas" agora são as cadeias de supermercados regionais de médio porte, com faturamento entre R$ 800 milhões e R$ 1,5bilhão por ano.

Espera-se que algumas delas aceitem as ofertas de compra e subam ao altar. Os pretendentes, como sempre, são as três gigantes do varejo: Wal-Mart, Grupo Pão de Açúcar e Carrefour. Fontes ouvidas pelo Valor afirmam que entre as noivas mais bem cotadas estariam as redes de supermercados Bretas, de Minas Gerais, Sonda, de São Paulo, e Prezunic, do Rio de Janeiro. Nenhuma delas confirma informações de que tenham recebido propostas de compra.

"Toda empresa familiar é passível de ser vendida", diz um executivo de uma empresa de varejo. Neste setor, especialmente no segmento de supermercados, muitas companhias encontram-se atualmente nas mãos da segunda ou terceira geração.

No caso da rede Bretas, com sede em Contagem (MG), o controle acionário está distribuído entre vários irmãos. Mas pessoas próximas à empresa atestam que o relacionamento entre eles é "saudável". A rede mineira, que ocupa o sétimo lugar no ranking do setor no Brasil, foi cortejada pelo Wal-Mart há cerca de três anos e, segundo fontes, as conversas chegaram a um estágio avançado. Mas o "namoro" não progrediu. Com vendas de R$ 1,54 bilhão em 2007 e 51 lojas, o Bretas é visto como um excelente negócio para os três gigantes por sua forte presença em Minas Gerais, um mercado ainda dominado por cadeias locais.

O mineiro Bretas fatura R$ 1,5 bilhão, tem 51 lojas e chegou a despertar o interesse do Wal-Mart há três anos

Do lado comprador, o varejo brasileiro mostrou uma sensível evolução nos últimos quatro anos, embora ainda existam muitas empresas cujas contas continuem sendo uma caixa preta. Mas, com a febre de lançamentos de ações na bolsa e os avanços macroeconômicos obtidos pelo Brasil, muitas empresas de médio porte começaram a se organizar para ter acesso ao mercado de capitais.

Algumas redes regionais fizeram o dever de casa e buscaram colocar seus livros em dia, com a contratação, por exemplo, de firmas de auditoria para assinar seus balanços. Assim, elas também podem pedir preços bem mais altos para os possíveis pretendentes estratégicos.

O grau de concentração no setor de supermercados ainda é baixo, em particular nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste, o que abre muito espaço para o avanço de Carrefour, Pão de Açúcar e Wal-Mart. Mesmo na cidade de São Paulo, onde a concentração é grande, a competição entre as três cadeias também é bastante acirrada. No caso dos supermercados, as autoridades antitruste analisam o grau de concentração loja a loja, no raio de um a cinco quilômetros.

Segundo uma fonte, a aquisição do Sonda, por exemplo, seria possível para qualquer uma das três grandes redes. E o interesse em comprar a varejista paulistana, décima sexta colocada no ranking nacional de supermercados, seria enorme. O Sonda, que possui 15 lojas, tem a vantagem de ser um negócio que poderia ser integrado num piscar de olhos à operação do Wal-Mart, Pão de Açúcar e Carrefour, que já possuem uma sólida estrutura logística na cidade de São Paulo. Em 2007, o Sonda faturou R$ 832 milhões. Os controladores da rede, porém, pedem um preço alto. Fala-se que eles já teriam cobrado um valor próximo a 80% das vendas, quando, no setor, as aquisições costumam sair por 50% do faturamento.

Com 28 lojas e vendas de R$ 1,5 bilhão em 2007, o Prezunic, do Rio, já foi olhado por possíveis compradores, diz uma fonte. A rede é a caçula do setor. Foi fundada em 2001 pelos antigos donos do Rainha, uma rede vendida para o Carrefour. No entanto, o grupo francês foi mal-sucedido na aquisição, sendo obrigado a fechar ou devolver os pontos-de-venda. Pelo passado nada feliz, supõe-se que o Carrefour, ao menos, não irá disputar o Prezunic.

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