14/07/2008 - Beth Koike, Carolina Mandl, Danilo Jorge e Sérgio Bueno
Marisa Cauduro/Valor
Com 330 lojas espalhadas em todo o país, a rede de fast-food Habib's fechou, em agosto do ano passado, um contrato com a Cargill, maior empresa de agronegócios do mundo, a compra de 1 milhão de quilos de gordura vegetal para fritura. Devido ao grande volume, o Habib's impôs como condição uma cláusula estabelecendo um preço fixo durante 12 meses. A Cargill, por sua vez, replicou a operação junto aos seus fornecedores de soja e algodão para fornecer ao Habib's. O contrato, muito usado por multinacionais como a Cargill, foi o primeiro do gênero feito pela brasileira Habib's e gerou a esta uma economia de R$ 2 milhões.
"Entre agosto de 2007 até hoje a diferença de preço já atinge 45%. Já nos primeiros três meses de contrato, economizamos 13%", diz Roberto Muniz, gerente de compras do Habib's, que está negociando com a Cargill a renovação do contrato. "Essa foi a nossa primeira parceria e provavelmente será difícil outro acordo de um ano. Estamos pleiteando seis meses, mas eles querem três", diz Muniz.
Além da Cargill, o Habib's está conversando com Sadia, Perdigão e outros fornecedores de carnes para fechar contratos de cerca de três meses. Atualmente, a compra de carne do Habib's é feita semanalmente, quando são compradas 150 toneladas. "Queremos mudar essa periodicidade porque é uma batalha toda semana", diz o executivo da rede que vende 7,5 milhões de esfihas por semana.
Para os hortifrutis, uma das soluções encontradas foi ir direto à plantação. A rede firmou uma parceria com dois grandes agricultores de tomate e cebola, do interior de São Paulo. O Habib's ajuda o agricultor com fertilizantes ou outros insumos e em contrapartida compra semanalmente 200 toneladas de tomate e cebola com 15% de desconto.
"Para o agricultor essa parceria também é vantajosa porque o ganho dele ao vender para nós é o dobro em relação ao valor que ele consegue vendendo a um intermediário", afirma Muniz. Outra operação do Habib's para escapar da alta das commodities foi uma compra de farinha da Argentina, há quatro meses, com custo entre 15% e 18% inferior ao do mercado interno.
Mesmo com essas operações de "blindagem" contra a disparada de preços dos alimentos, o Habib's deixou o seu cardápio de 5% a 7% mais caro. "Estamos absorvendo a maior parte do impacto da alta dos alimentos. Não dá para repassar tudo porque corremos o risco de perder clientes. Na primeira semana de reajuste, chegamos a ter uma retração de 2% a 3% nas vendas, mas já recuperamos", disse Mauro Saraiva, diretor de produção e logística do Habib's, cujo faturamento este ano deve chegar a cerca de R$ 650 milhões.
A rede Giraffas, especializada em pratos executivos e lanches e com 270 unidades no país, exige de seus novos fornecedores um preço fixo durante seis meses.
Na área de varejo alimentar, o McDonald's é uma das redes que trabalham há algum tempo com contratos de "hedge" junto a fornecedores como a FSB Foods, que produz pão para hambúrguer. Mas o McDonald's não detalhou como funciona a sua operação.
Conhecida pelos pratos recheados com muita carne, a rede americana de restaurantes Outback está negociando contratos de prazos mais estendidos, de três e seis meses. "Com compras trimestrais e semestrais, estabilizamos os preços e ajudamos, por outro lado, a estruturar a cadeia fornecedoras com contratos garantidos", diz Salim Maroun, vice-presidente da rede.
Em 2007, o Outback serviu 170 toneladas de carne bovina nos seus 19 restaurantes no Brasil. Em outra frente, a rede está fazendo uma espécie de "engenharia de cardápio", dando destaque a outros tipos de carnes mais baratas. "Não são todas as proteínas que aumentam e, dessa forma, podemos ampliar a participação das carnes suínas e de frango e dos pescados para contrabalançar a elevação dos preços da carne bovina", afirma Maroun.
Em Porto Alegre, a Churrascaria Barranco, uma das mais tradicionais da cidade, mantém acordo com o frigorífico Mercosul não para "travar" preços, mas para garantir o fornecimento de carne bovina mesmo no período de entressafra do setor, durante o inverno. Segundo o sócio-proprietário Élson Furini, o consumo mensal de carne no restaurante é de oito toneladas.
A alta dos alimentos não está batendo só na porta dos restaurantes. Ao ver a disparada dos preços, a rede de supermercados maranhense Mateus está estocando mercadoria para driblar a alta.
"Já voltei a trabalhar com o pensamento dos tempos de inflação alta. Estou fazendo estoques", diz Ilson Mateus, dono do grupo com 12 lojas no Maranhão. Ele está comprando mensalmente mercadorias em dobro, para estocar. Os principais produtos armazenados são açúcar, óleo, arroz e feijão. Segundo ele, os fornecedores não têm sido receptivos às contrapropostas de preços dos varejistas.
"O duro dessa história é que preciso usar todo meu dinheiro para fazer estoque, enquanto podia usar para expansão das lojas", reclama Mateus. Ele diz que, em alguns casos, tem sido vantajoso até mesmo tomar dinheiro emprestado para antecipar as compras. "Os juros que vou pagar são menores do que os aumentos de preços de alguns alimentos." Além disso, segundo ele, a estratégia tem sido necessária para manter a clientela. "Se os preços sobem muito, as pessoas vão comprar menos porque não vão ter dinheiro para tudo."
segunda-feira, 14 de julho de 2008
InBev compra a Anheuser-Busch e cria a maior cervejaria do mundo
14/07/2008
David Kesmodel, Dennis K. Berman e Dana Cimilluca, The Wall Street Journal
Anheuser-Busch concordou ontem à noite em ser comprada pela InBev por US$ 49,91 bilhões, criando a maior cervejaria do mundo e colocando um ícone americano nas mãos de uma gigante belgo-brasileira. As empresas planejam chamar a nova companhia de Anheuser-Busch InBev. Anheuser deverá ter dois assentos no conselho de administração, segundo pessoas próximas ao assunto.
O acordo, que está sujeito a aprovação dos acionistas, cria uma nova companhia com vendas líquidas de US$ 36 bilhões. A SAB Miller, agora, fica em segundo lugar no mercado mundial.
A operação é evidência de que mesmo com uma desaceleração no mercado de fusões e aquisições, como resultado da redução no crédito, o apetite de muitas corporações por compras ainda é forte. Também mostra que os bancos, apesar das perdas que têm sofrido, ainda estão dispostos a abrir seus cofres para ajudar a financiar uniões de grandes companhias.
A compra da Anheuser traz riscos à InBev. Muito do lucro da gigante de St Louis vem do mercado americano, que cresce devagar. Embora a Anheuser, cuja marca mais conhecida é a Budweiser, tenha quase 50% do mercado americano de cerveja, o maior do mundo em lucros, a empresa tem lutado nos últimos anos com fracas vendas. Cervejarias de grande volume enfrentam uma concorrência cada vez mais intensa de microcervejarias, bem como de vinhos e bebidas destiladas.
O acordo marca um fim abrupto para o que muitos esperavam ser uma novela prolongada. Durante semanas, a Anheuser, de Saint Louis, no Missouri, mostrou forte resistência a um acordo. Mas na semana passada a InBev, sediada em Leuven (Bélgica), conseguiu engajar sua rival em negociações amigáveis ao aumentar sua oferta em US$ 5 por ação, para US$ 70.
O pacto cria um colosso no mercado cervejeiro. As duas gigantes comercializam cerca de 300 marcas nos cinco continentes. Juntas, elas formam a maior cervejaria nas Américas e a número 2 na Europa e na Ásia, segundo a InBev. Hoje, InBev e Anheuser são as números 2 e 3 do mundo, respectivamente, em volume de vendas, atrás da britânica SABMiller.
O negócio é a segunda maior compra de uma empresa americana de bens de consumo depois da aquisição, em 2005, da Gillette pela Procter & Gamble por US$ 57,2 bilhões, segundo a Thomson Reuters. E é a terceira maior compra de uma empresa americana por uma de outro país.
A InBev, dona das marcas Brahma, Antarctica, Quilmes, Stella Artois e Beck's, informou que venderia ativos não essenciais de suas operações ou das da Anheuser para ajudar a financiar a compra. Alguns analistas dizem que a empresa pode vender a divisão de parques temáticos da Anheuser.
A InBev, que foi criada pela fusão em 2004 da belga Interbrew com a brasileira AmBev, não tem muitas sobreposições com a Anheuser ao redor do mundo. Assim, pode ser mais difícil cortar custos com a união de equipes e operações industriais do que em outras transações do setor.
A aquisição pela InBev encerraria quase 150 anos de independência da Anheuser. O diretor-presidente da empresa, August Busch IV, tataraneto do fundador Adolphus Busch, disse a distribuidores em abril, antes que uma oferta formal fosse feita, que a empresa nãoseria vendida enquanto ele estivesse à frente dela. Mas a família Busch tem uma parcela pequena do capital da Anheuser e os membros do conselho estavam voltados à tarefa de fazer o que é melhor para os acionistas minoritários.
A Anheuser tinha poucas opções para evitar a InBev. Outras cervejarias mundiais estavam ocupadas com grandes transações recentes, o que limita a capacidade deles de fazer outro grande negócio. Outras transações também poderiam provocar preocupações de autoridades antitruste nos EUA, enquanto uma fusão com a InBev deve passar sem dificuldades devido à pequena fatia que esta detém do mercado americano.
Em 25 de junho, o conselho da Anheuser rejeitou formalmente a proposta original de US$ 65 por ação, em dinheiro. Mas deu a entender que estaria aberto a uma oferta mais alta. Antes da proposta formal, Busch IV havia alertado a InBev de que sua empresa não estava à venda e que ele e seu conselho estavam comprometidos em continuarem independentes, segundo a InBev.
Na semana passada, a InBev deu sinais de faria uma oferta hostil ao anunciar um grupo de conselheiros para substituir o conselho atual da Anheuser. Esta, por sua vez, processou a InBev num tribunal federal americano, acusando-a de fazer declarações falsas sobre sua oferta inicial, entre as quais sobre o financiamento dela. A InBev preferia fazer uma negociação amigável com a Anheuser, em parte porque queria manter importantes executivos da americana.
O preço de venda representa um ágio importante sobre o valor das ações da Anheuser. As ações ficaram em torno de US$ 50 por cinco anos. Até que os rumores voltassem ao mercado, há alguns meses, o recorde histórico tinha sido US$ 54,97, em outubro de 2002.
David Kesmodel, Dennis K. Berman e Dana Cimilluca, The Wall Street Journal
Anheuser-Busch concordou ontem à noite em ser comprada pela InBev por US$ 49,91 bilhões, criando a maior cervejaria do mundo e colocando um ícone americano nas mãos de uma gigante belgo-brasileira. As empresas planejam chamar a nova companhia de Anheuser-Busch InBev. Anheuser deverá ter dois assentos no conselho de administração, segundo pessoas próximas ao assunto.
O acordo, que está sujeito a aprovação dos acionistas, cria uma nova companhia com vendas líquidas de US$ 36 bilhões. A SAB Miller, agora, fica em segundo lugar no mercado mundial.
A operação é evidência de que mesmo com uma desaceleração no mercado de fusões e aquisições, como resultado da redução no crédito, o apetite de muitas corporações por compras ainda é forte. Também mostra que os bancos, apesar das perdas que têm sofrido, ainda estão dispostos a abrir seus cofres para ajudar a financiar uniões de grandes companhias.
A compra da Anheuser traz riscos à InBev. Muito do lucro da gigante de St Louis vem do mercado americano, que cresce devagar. Embora a Anheuser, cuja marca mais conhecida é a Budweiser, tenha quase 50% do mercado americano de cerveja, o maior do mundo em lucros, a empresa tem lutado nos últimos anos com fracas vendas. Cervejarias de grande volume enfrentam uma concorrência cada vez mais intensa de microcervejarias, bem como de vinhos e bebidas destiladas.
O acordo marca um fim abrupto para o que muitos esperavam ser uma novela prolongada. Durante semanas, a Anheuser, de Saint Louis, no Missouri, mostrou forte resistência a um acordo. Mas na semana passada a InBev, sediada em Leuven (Bélgica), conseguiu engajar sua rival em negociações amigáveis ao aumentar sua oferta em US$ 5 por ação, para US$ 70.
O pacto cria um colosso no mercado cervejeiro. As duas gigantes comercializam cerca de 300 marcas nos cinco continentes. Juntas, elas formam a maior cervejaria nas Américas e a número 2 na Europa e na Ásia, segundo a InBev. Hoje, InBev e Anheuser são as números 2 e 3 do mundo, respectivamente, em volume de vendas, atrás da britânica SABMiller.
O negócio é a segunda maior compra de uma empresa americana de bens de consumo depois da aquisição, em 2005, da Gillette pela Procter & Gamble por US$ 57,2 bilhões, segundo a Thomson Reuters. E é a terceira maior compra de uma empresa americana por uma de outro país.
A InBev, dona das marcas Brahma, Antarctica, Quilmes, Stella Artois e Beck's, informou que venderia ativos não essenciais de suas operações ou das da Anheuser para ajudar a financiar a compra. Alguns analistas dizem que a empresa pode vender a divisão de parques temáticos da Anheuser.
A InBev, que foi criada pela fusão em 2004 da belga Interbrew com a brasileira AmBev, não tem muitas sobreposições com a Anheuser ao redor do mundo. Assim, pode ser mais difícil cortar custos com a união de equipes e operações industriais do que em outras transações do setor.
A aquisição pela InBev encerraria quase 150 anos de independência da Anheuser. O diretor-presidente da empresa, August Busch IV, tataraneto do fundador Adolphus Busch, disse a distribuidores em abril, antes que uma oferta formal fosse feita, que a empresa nãoseria vendida enquanto ele estivesse à frente dela. Mas a família Busch tem uma parcela pequena do capital da Anheuser e os membros do conselho estavam voltados à tarefa de fazer o que é melhor para os acionistas minoritários.
A Anheuser tinha poucas opções para evitar a InBev. Outras cervejarias mundiais estavam ocupadas com grandes transações recentes, o que limita a capacidade deles de fazer outro grande negócio. Outras transações também poderiam provocar preocupações de autoridades antitruste nos EUA, enquanto uma fusão com a InBev deve passar sem dificuldades devido à pequena fatia que esta detém do mercado americano.
Em 25 de junho, o conselho da Anheuser rejeitou formalmente a proposta original de US$ 65 por ação, em dinheiro. Mas deu a entender que estaria aberto a uma oferta mais alta. Antes da proposta formal, Busch IV havia alertado a InBev de que sua empresa não estava à venda e que ele e seu conselho estavam comprometidos em continuarem independentes, segundo a InBev.
Na semana passada, a InBev deu sinais de faria uma oferta hostil ao anunciar um grupo de conselheiros para substituir o conselho atual da Anheuser. Esta, por sua vez, processou a InBev num tribunal federal americano, acusando-a de fazer declarações falsas sobre sua oferta inicial, entre as quais sobre o financiamento dela. A InBev preferia fazer uma negociação amigável com a Anheuser, em parte porque queria manter importantes executivos da americana.
O preço de venda representa um ágio importante sobre o valor das ações da Anheuser. As ações ficaram em torno de US$ 50 por cinco anos. Até que os rumores voltassem ao mercado, há alguns meses, o recorde histórico tinha sido US$ 54,97, em outubro de 2002.
Assinar:
Postagens (Atom)