Valor Online - Beth Koike - 24/06/2008
Quem circula pelo centro de São Paulo logo percebe na porta dos restaurantes populares as alterações dos preços do "prato feito" (mais conhecido como "PF") e do "comercial", normalmente recheados com muito arroz, feijão e carne, alimentos que nos últimos 12 meses tiveram altas de 32%, 113% e 26%, respectivamente, segundo o IPC-Fipe. Além disso, entre as carnes bovinas, os maiores reajustes no período foram verificadas nos cortes considerados menos nobres. O filé mignon, por exemplo, aumentou 24% contra 37% do acém.
Diante da importância desses alimentos na composição do "PF", a alta no preço dos alimentos está afetando com mais intensidade o bolso da população menos abastada. Segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), as refeições fora de casa voltadas para a classe popular tiveram um reajuste de preço de até 15% nos últimos seis meses.
Já entre os restaurantes que servem à la carte, por quilo e também nos mais sofisticados o aumento foi de aproximadamente 5%. Em alguns casos nem houve repasse. "Nas refeições tipo 'PF' o peso do arroz, feijão, farinha e carne é maior. Além disso, a margem dos restaurantes populares é pequena e não dá para segurar tanto o preço como nos estabelecimentos sofisticados", explica Paulo Solmucci Júnior, presidente-executivo da Abrasel.
O músico Renato Barros Pereira, 39 anos, é um dos que está sentindo o aumento do preço nos restaurantes que freqüenta na capital paulista. Ele almoça diariamente num local cujo prato atualmente custa R$ 4,90. Há um mês, ele desembolsava R$ 4,50. "Aqui era um dos locais mais em conta, com uma comida boa e ambiente limpo. Mas já teve aumento e no fim do mês essa diferença pesa", reclama Pereira. "No outro restaurante que também vou, eles aumentaram de R$ 5 para R$ 5,50", complementa.
No restaurante Paiol, também no centro de São Paulo, a refeição saiu de R$ 6,99 para R$ 7,99. "O ideal seria aumentar para R$ 10, mas se eu fizer isso a clientela vai embora. Parece pouco pagar R$ 1 a mais pelo almoço, mas no fim do mês essa diferença pode ser equivalente a uma conta de luz", diz João Vale de Cera, gerente do Paiol, que amargou uma queda de 10% no número de fregueses após reajustar o preço. Os restaurantes Azuzinho e NJ freqüentados por Pereira também tiveram redução de cerca de 10% na clientela.
O gerente do restaurante Paiol acredita que esses clientes perdidos agora trazem marmita de casa ou optam por salgados, como coxinha, com preço mais em conta.
O Habib's, que vende 30 milhões de esfihas por mês, elevou seus preços entre 5% e 7% há cerca de um mês. Na primeira semana, a rede com 330 unidades teve uma retração de 2% a 3% nas vendas, que já foi recuperada. "Estamos absorvendo a maior parte do impacto da alta dos alimentos. Não dá para repassar tudo porque corremos o risco de perder clientes", afirmou Mauro Saraiva, diretor de produção e logística do Habib's.
No restaurante e pizzaria Vera Cruz, que também possui uma padaria na zona leste de São Paulo, foi repassado um aumento médio de 12%. "O saco de 50 quilos da farinha era R$ 56 e agora custa R$ 94. Preciso repassar algo", diz Luiz Antonio Gonçalves, sócio da Vera Cruz, que serve diariamente 100 pizzas.
O aumento no preço dos cardápios está afetando principalmente os estabelecimentos populares, mas ao que tudo indica caminha para chegar também à mesa da classe média. "Os restaurantes que aumentaram 5% devem chegar ao fim do ano com um reajuste de 8%", afirma o presidente da Abrasel. A opinião é compartilhada pela ECD, consultoria especializada em food service que realizou uma pesquisa com 40 restaurantes de São Paulo voltados para a classe média. "A maioria ainda não elevou seus preços porque tinha medo de perder clientes, mas como estão perdendo muita margem, informaram que vão reajustar seus preços no próximo mês", explicou Enzo Donna, sócio da ECD. Segundo o IPC-Fipe, a alimentação fora do domicilio aumentou 12,2% entre junho de 2007 e maio de 2008.
Já as redes de restaurantes e fast foods como McDonald's, Spoleto, Almanara e o mineiro Villa Rizza informaram que não aumentaram seus preços e não têm previsão de fazê-lo. "Não reajustamos nada, apesar de a nossa principal matéria-prima ter tido aumento de mais de 130%. Acreditamos que o preço vai baixar na próxima safra", explicou Gianni Carboni, sócio do Spoleto.
terça-feira, 24 de junho de 2008
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