Valor Online - 27/06/08
A cervejaria americana Anheuser-Busch (AB) rejeitou formalmente na noite de hoje a proposta de compra não solicitada no valor de US$ 46,3 bilhões feita pela InBev. Em carta enviada para a direção da empresa belgo-brasileira e divulgada ao mercado, o executivo-chefe da AB, August A. Busch IV, diz que o conselho de diretores considerou a proposta "inadequada" e afirma que ela "não atende aos melhores interesses dos acionistas". Prevendo a rejeição, a InBev já se prepara para direcionar a proposta diretamente aos acionistas, tornando a oferta hostil.
"O conselho da Anheuser-Busch acredita que o preço que foi proposto subestima substancialmente a empresa, seus ativos-chave e suas perspectivas", diz a carta de Busch IV, ressaltando a liderança das marcas Bud Light e Budweiser, respectivamente a primeira e a segunda marca de cerveja mais vendida no mundo.
A empresa dos EUA diz ainda que contou com a consultoria de analistas financeiros e legais independentes para tomar sua decisão. No dia 11 de junho, a InBev se propôs a pagar US$ 65 por ação da Anheuser-Busch em dinheiro e já obteve garantia de financiamento de ao menos US$ 40 bilhões com um grupo de bancos para custear a aquisição.
A cervejaria belgo-brasileira argumenta que o valor representa um prêmio de 35% sobre o preço da ação da empresa americana antes do início dos boatos sobre a proposta de compra e que supera em 18% o pico histórico atingido pela ação.
Em carta endereçada a Carlos Brito, executivo-chefe da InBev, Busch IV diz que entende o ponto de vista da cervejaria belgo-brasileira, que estaria se aproveitando de um momento de dólar fraco e do mercado acionário dos EUA em baixa para fazer a proposta de compra. Mas diz que, do ponto de vista do acionista da Anheuser-Busch, a transação com a InBev significaria perder o "ganho maior que ele pode obter com o plano estratégico de crescimento da companhia".
Mesmo rejeitando a oferta, o executivo-chefe da AB deixa claro que o conselho está aberto para discutir "qualquer alternativa estratégica que seja do interesse dos acionistas da empresa", dando a entender que avaliaria uma proposta mais alta.
Na despedida da carta, Busch IV faz uma provocação em tom de brincadeira a Brito. "Como você disse, você sonha grande. Nós (diretores da Anheuser) respeitamos seu desejo de expandir sua companhia. Mas o seu crescimento não deve ser feito às custas dos nossos acionistas".
Já se antecipando a uma recusa da Anheuser, a InBev informou hoje que recorreu à justiça do estado americano de Delaware em busca de declarações que permitam "rotas alternativas" no processo que assegurem que os acionistas da Anheuser-Busch preservem seu poder de decisão sobre a oferta. Ela quer uma declaração legal de que os acionistas da AB podem remover sem justa causa todos os 13 diretores da empresa, mediante um pedido por escrito.
Segundo a InBev, o estatuto da companhia americana e a lei do estado já deixam claro que os oito diretores eleitos após 2006 podem ser destituídos. A intenção do processo é confirmar a avaliação da InBev de que os cinco diretores escolhidos antes de 2006 também podem ser afastados sem justa causa se os acionistas assim decidirem e manifestarem por escrito.
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