14/07/2008
David Kesmodel, Dennis K. Berman e Dana Cimilluca, The Wall Street Journal
Anheuser-Busch concordou ontem à noite em ser comprada pela InBev por US$ 49,91 bilhões, criando a maior cervejaria do mundo e colocando um ícone americano nas mãos de uma gigante belgo-brasileira. As empresas planejam chamar a nova companhia de Anheuser-Busch InBev. Anheuser deverá ter dois assentos no conselho de administração, segundo pessoas próximas ao assunto.
O acordo, que está sujeito a aprovação dos acionistas, cria uma nova companhia com vendas líquidas de US$ 36 bilhões. A SAB Miller, agora, fica em segundo lugar no mercado mundial.
A operação é evidência de que mesmo com uma desaceleração no mercado de fusões e aquisições, como resultado da redução no crédito, o apetite de muitas corporações por compras ainda é forte. Também mostra que os bancos, apesar das perdas que têm sofrido, ainda estão dispostos a abrir seus cofres para ajudar a financiar uniões de grandes companhias.
A compra da Anheuser traz riscos à InBev. Muito do lucro da gigante de St Louis vem do mercado americano, que cresce devagar. Embora a Anheuser, cuja marca mais conhecida é a Budweiser, tenha quase 50% do mercado americano de cerveja, o maior do mundo em lucros, a empresa tem lutado nos últimos anos com fracas vendas. Cervejarias de grande volume enfrentam uma concorrência cada vez mais intensa de microcervejarias, bem como de vinhos e bebidas destiladas.
O acordo marca um fim abrupto para o que muitos esperavam ser uma novela prolongada. Durante semanas, a Anheuser, de Saint Louis, no Missouri, mostrou forte resistência a um acordo. Mas na semana passada a InBev, sediada em Leuven (Bélgica), conseguiu engajar sua rival em negociações amigáveis ao aumentar sua oferta em US$ 5 por ação, para US$ 70.
O pacto cria um colosso no mercado cervejeiro. As duas gigantes comercializam cerca de 300 marcas nos cinco continentes. Juntas, elas formam a maior cervejaria nas Américas e a número 2 na Europa e na Ásia, segundo a InBev. Hoje, InBev e Anheuser são as números 2 e 3 do mundo, respectivamente, em volume de vendas, atrás da britânica SABMiller.
O negócio é a segunda maior compra de uma empresa americana de bens de consumo depois da aquisição, em 2005, da Gillette pela Procter & Gamble por US$ 57,2 bilhões, segundo a Thomson Reuters. E é a terceira maior compra de uma empresa americana por uma de outro país.
A InBev, dona das marcas Brahma, Antarctica, Quilmes, Stella Artois e Beck's, informou que venderia ativos não essenciais de suas operações ou das da Anheuser para ajudar a financiar a compra. Alguns analistas dizem que a empresa pode vender a divisão de parques temáticos da Anheuser.
A InBev, que foi criada pela fusão em 2004 da belga Interbrew com a brasileira AmBev, não tem muitas sobreposições com a Anheuser ao redor do mundo. Assim, pode ser mais difícil cortar custos com a união de equipes e operações industriais do que em outras transações do setor.
A aquisição pela InBev encerraria quase 150 anos de independência da Anheuser. O diretor-presidente da empresa, August Busch IV, tataraneto do fundador Adolphus Busch, disse a distribuidores em abril, antes que uma oferta formal fosse feita, que a empresa nãoseria vendida enquanto ele estivesse à frente dela. Mas a família Busch tem uma parcela pequena do capital da Anheuser e os membros do conselho estavam voltados à tarefa de fazer o que é melhor para os acionistas minoritários.
A Anheuser tinha poucas opções para evitar a InBev. Outras cervejarias mundiais estavam ocupadas com grandes transações recentes, o que limita a capacidade deles de fazer outro grande negócio. Outras transações também poderiam provocar preocupações de autoridades antitruste nos EUA, enquanto uma fusão com a InBev deve passar sem dificuldades devido à pequena fatia que esta detém do mercado americano.
Em 25 de junho, o conselho da Anheuser rejeitou formalmente a proposta original de US$ 65 por ação, em dinheiro. Mas deu a entender que estaria aberto a uma oferta mais alta. Antes da proposta formal, Busch IV havia alertado a InBev de que sua empresa não estava à venda e que ele e seu conselho estavam comprometidos em continuarem independentes, segundo a InBev.
Na semana passada, a InBev deu sinais de faria uma oferta hostil ao anunciar um grupo de conselheiros para substituir o conselho atual da Anheuser. Esta, por sua vez, processou a InBev num tribunal federal americano, acusando-a de fazer declarações falsas sobre sua oferta inicial, entre as quais sobre o financiamento dela. A InBev preferia fazer uma negociação amigável com a Anheuser, em parte porque queria manter importantes executivos da americana.
O preço de venda representa um ágio importante sobre o valor das ações da Anheuser. As ações ficaram em torno de US$ 50 por cinco anos. Até que os rumores voltassem ao mercado, há alguns meses, o recorde histórico tinha sido US$ 54,97, em outubro de 2002.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário